terça-feira, 10 de abril de 2012

Da Ansiedade e Do Medo: A Solidão



I- Da Ansiedade

A ansiedade, dentro dos seus limites naturais, é algo que faz parte da dinâmica do corpo e mente. É uma reação que tende a equilibrar uma ação correspondente, tal qual uma expectativa frente a uma resposta esperada.
A rotina impregnada pelo coletivismo consumista, quando não nos esmaga enquanto pessoa livre e racional, espreita-nos por todos os lados. Assumimos, muitas vezes sem percebermos, um comportamento ansioso anormal, patológico, desgastante para nós mesmos. O universo emocional passa a ser domínio da insegurança, que alimenta e fortalece a ansiedade, tornando-a permanente e em crescente desenvolvimento.
Tomando para si as mais extravagantes personalidades como modelo, nos rendemos ao exótico, enquanto os conflitos pessoais e interpessoais, disfarçadamente, só aumentam.
Retornamos então a discrepância entre o excesso de conforto material e tecnológico em contraponto a uma espiritualidade atrofiada. É fácil que visualizemos na prática: Enquanto as classes favorecidas podem comprar a tecnologia e suas promessas, as classes menos abastadas sofrem e em resposta a este sofrimento encontram apenas indiferença. E aqui, é importante pararmos de culpar um, ou o sistema econômico. Essa falência que se revela é cultural, ética, fruto do desequilíbrio entre o imediato material que se deseja e o espiritual que se abandona.

II- Do Medo

A injustiça, a insegurança, e as pressões psicológicas fundamentam o medo, que ora canalizamos em disfunções comportamentais violentas e irracionais, ora permitimos que nos afunde na depressão. A instabilidade então nos atrai para onde estão os instáveis da mesma natureza. Surgem os grupos doentios, na falsa ilusão do equilíbrio. Ao invés de nos melhorar, apenas substituimos o comportamento alienado por outro, igualmente alienado, e não menos patológico.
Criticamos as afirmações e valores do passado, porém agimos de forma pior. Nos entregamos a novos pensares com facilidade, adotamos uma postura que julgamos revolucionária, necessária, pós moderna. E caímos na alucinação, na anarquia, na falsa esperança do escapismo.
Não vencemos o medo íntimo na extravagância, no consumismo excessivo, ou no exibicionismo barato. Isso é distorção. Ilusão auto-desejada de quem não sabe o que fazer. E o medo apenas somatiza-se.

III- A Solidão

A plenitude nas relações humanas tem sido substituida por um mecanismo de afirmação pessoal prejudicial, especialmente àqueles indivíduos com mais bloqueios e que necessitam de um intercâmbio de idéias saudável. Eis que nas sombras do medo, surge a solidão.
A relevância de se sentir bem recebido nos grupos sociais é absurda a ponto de, quando não ocorre, provocar o desprezo do indivíduo por si mesmo. Ser visto e estar cercado por sorrisos rasos nada mais gera do que solidão, pois o supérfluo não nos preenche.
A necessidade de ser amado. A ansiedade para ser amado. O medo de não ser amado. Não sabemos o que é o amor (pois nunca o conquistamos) e nos permitimos funcionar como objeto de prazer, com uma singela máscara de afetividade. Quando cai, e se esgota, a neurose da solidão bate à porta novamente, mostrando que perdemos o rumo e o equilíbrio.
O sucesso. Propagado como forma de felicidade, é na realidade forma de solidão. Artistas, famosos, cercados de admiradores, e entretanto tão sós. Os desregramentos na vida dessas pessoas e o índice de suicídio no meio apenas comprovam a solidão no meio dos que riem sem vontade de rir.

IV- Algumas Considerações

Identificamos que o desenvolvimento humano carece de espiritualidade, como contraparte que equilibra a matéria. Por que então a necessidade de negar isso? Simplesmente porque somos egoístas, ambiciosos, e gostamos de sê-lo. E se não querermos mudar em essência, não provocaremos mudança relevante. O nosso desafio inicial é nos autoreconhecermos seres de corpo e alma.